19 de junho de 2011

O diario de uma otaria - capitulo 14

20 de setembro de 2010

"- Não dá mais Julie, não consigo ficar com você, não consigo te beijar. Eu gosto de você, estou gostando muito, mas parece que você já te se entregou de corpo e alma pra esse relacionamento. Eu gosto de outra também. Julie, não me leve a mal, não quero fazer você sofrer. Acho melhor a gente continuar na amizade. Eu vou estar sempre aqui, sempre que precisar... você sabe. Você é a mulher da vida de qualquer homem, mas não é pra ser agora. Não é. Acredito que mais pra frente a gente vá se encontrar e tudo dará certo, se você me esperar... Julie, é para o seu bem. Se cuida. - ele disse e se foi.
Parecia que eu estava correndo num vazio, para uma luz branca, enquanto a escuridão tentava me arrastar para baixo. Eu gritava mas não ouvia. Eu tentava segurar a mão de Rodrigo, mas ele estava desaparecendo. Um acidente de carro numa estrada. Soltei um grito ensurdecedor, mas mesmo assim, ninguém ouvia. Eu estava sozinha. Inteiramente sozinha. Com medo. Abandonada. E a luz branca se aproximava cegando minha vista, não... não...."
Acordei, ofegante, numa cama de hospital com aquele branco das paredes e luzes me cegando. Aquele cheiro de limpeza queimava minha narinas. No primeiro instante, demorei para assimilar aonde estava. Não conseguia me lembrar nem o porque estava ali. Na  verdade, minha cabeça doía tanto, mas tanto, que eu sequer lembrava do meu dia anterior. Quando abri meus olhos, minha mãe estava sentada numa cadeira, me olhando com cara de desaprovação. Meu psiquiatra estava ao seu lado. Ops, acho que fiz merda...
- Ela acordou - Dr. Romeu disse, se aproximando de mim - JULIE! O que aconteceu? Por que isso de novo?
Não conseguia falar, não me lembrava de uma explicação lógica. 
- Você estava tão bem, tão... "curada". Por que dessa recaída?
- Ela nunca vai tomar jeito - a voz fria de minha mãe ecoou pela sala. Aquilo me fez sentir a pior pessoa do universo.
Pigarreei. 
- Hum... não me lembro. Não sei o porque que isso aconteceu, como vim parar aqui. Mal me lembro de ter saído de casa.
- Você saiu... num sábado. Estamos numa segunda. - Minha mãe disse, ainda com voz de desaprovação. Que diabos eu tinha feito?
Respirei fundo, e fechei os olhos. Meu corpo doía.  Fazia dois dias que eu tinha sumido, e como não me lembrava? 
- Recebemos a informação que você estava internada aqui, ontem a tarde. Eles tiveram que fazer uma lavagem estomacal. Falaram que, entre as substâncias que você tinha ingerido, além de bebidas, tinha calmantes. MUITOS. - Dr. Romeu disse - Internaram você aqui, um menino, aproximadamente da sua idade, alegando que você tinha dito que não suportava mais a vida te sacanear, e que estava fazendo uma escolha, e que se você morresse, ninguém iria sentir sua falta. 
Ouvindo aquilo, parecia absurdo. Mas, aos poucos minha mente foi clareando. Uma festa. Minhas amigas. Meninos. Rodrigo. Jake... Parecia que uma torneira de realidade estava sendo aberta e inundando meus pensamentos...

*Flashback*
- Não quero ir - eu dizia a Kate, uma das companheiras de festa.
- Larga a mão de ser boba. Vai ser ótima. E o Rodrigo vai estar lá. Vocês podem conversar.
- Não quero. Não depois de tudo o que ele disse. Prefiro, ficar na minha Kate, sem festas.
- Pára! Faz muito tempo que você não sai pra se divertir. Descontrair, ver gente.
- Não acho que vai ser uma boa...
E sendo assim, me arrumei e fomos. Sábado a noite, casa lotada, pessoas loucas, muito loucas. A gente mal tinha chegado, e vários caras vieram nos puxando para perto deles. Coisa insana. Parei por um momento a refletir, que eu convive durante muito tempo com aquilo, e agora, me parecia um absurdo. Colocaram um copo de bebida na minha mão. Era Kate.
- Aproveite - ela piscou e saiu andando, me deixando sozinha ali. Olhei para o copo em minha mão. Olhei ao meu redor, e para a minha sorte, vi Rodrigo. Em um ato impulsivo, virei o copo, de uma vez. Para suportar aquilo, eu iria precisar disso.
Música alta, olhares perdidos. Ele beijando outra. Ele se amassando com outra. Ele indo para o quarto com outra. E bebida que ia pra baixo. Eu já estava bem alegre, quando um cara qualquer, nem me lembro da sua fisionomia, já chegou me beijando. Pelo menos, beijava bem. A gente foi tropeçando, se beijando indo para um canto qualquer. E era mais uma coisa qualquer. Quando dei por mim, estávamos numa cama.
Acordei no dia seguinte com uma dor de cabeça dos infernos, somente de lingerie. Merda, o que eu havia feito? Com custo, acabei achando o resto de minha roupa. Não estava enxergando bem. Desci para a cozinha, afim de encontrar algo para tomar. 
- Ora, não sabia que você era assim, tão fácil. - a voz de Rodrigo ecoou pelo ambiente.
- Você não tem moral para falar comigo nesse tom.
- Ah, claro. Se eu soubesse que era fácil assim, teria insistido mais, pelo menos, sairia no lucro.
- CALA A SUA BOCA, IDIOTA. Você não sabe o que está falando. - Comecei a abrir os armários, para encontrar algo para tomar para a dor de cabeça. - Você não sabe de nada da minha vida, se sabe, é uma parcela bem pequena. Você não tem moral para falar nada de mim. Você, ao menos, nem se deu o trabalho de me conhecer... "Mulher da minha vida", ah, vá se fuder. - Achei uns compridos, num potinho. Nem me dei conta de ler o rótulo. Peguei um punhado, e soquei esôfago abaixo. Para ajudar, peguei um copo, com alguma coisa dentro, e tomei.- Como se não bastasse minha vida estar ruim o suficiente, você fez questão de piorá-la. Se eu morresse, ninguém sentiria a minha falta. 
- Cala a boca, além de ser fácil, é infantil - ele disse, ainda encostado na bancada, de braços cruzados. 
- Quem é você para me mandar calar a boca e falar assim comigo? - Eu disse avançando para cima dele, e quando ia lhe dar um tapa em sua cara , ele segurou meus dois punhos com muita força.
- Melhor que você.
- Você não presta nem o chão que pisa. Ficou comigo para atingir a Anne. Me usou, somente. E tira essas mãos imundas. Vai lá, comer a outra que está dormindo. - Minha vista começou a escurecer, e voltava depois de um tempo. Comecei a me sentir mole. Cambaleante. Como Rodrigo ainda estava me segurando, ele percebeu algo.
- O que está acontecendo aqui? - Uma outra voz conhecida preencheu a cozinha. Jake? - Julie...?
A ultima coisa que sentir foi minhas pernas cederem e uns braços me pegarem. Depois. Apaguei.
*Flashback*

Eu queria abrir um buraco e me enfiar dentro. Sumir, desaparecer. Parecia que cada vez que eu tentava concertar algo, eu fazia tudo ficar 500 vezes pior. Olhava a cara de desaprovação - ainda - de minha mãe, aquilo estava me matando. Eu queria que ela se orgulhasse de mim.
- Precisamos ver o que faremos com você agora... - Dr. Romeu disse.
Nem retruquei. Já sabia o que me aguardava. Que seja. Minha vida precisava melhorar. Sozinha eu havia falhado, que fosse com ajuda, internação, ou seja lá no nome  que isso tem. Será que um dia tudo vai voltar ao normal?

- continua -

Um comentário:

  1. Nossa, você escreve muito bem. Muito bem mesmo. Sempre leio seus posts. Sua forma de escrever me inspira.

    Beeijos ;*

    http://line-arejustwords.blogspot.com/

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