24 de abril de 2011

O diario de uma otaria - capítulo 3

5 de março de 2010

- Pois é, vejo que a senhorita anda gostando da ideia de escrever um diário – Dr. Romeu disse, assim que analisou as páginas escritas. Não que houvesse muita coisa, mas já dava para o gasto para eu me sentir um pouco mais leve em relação aos meus sentimentos. Ele deu uma olhada em geral e parou uma parte. – Você sofreu bullying.
- Não.
- Sofreu sim.
- Não sofri.
- Você pode negar o quanto quiser, mas o que diz não condiz com o que escreveu. – Ele disse severamente, me encarando.
- Não era bem bullying, doutor, era.. hum.. a menina somente me xingava e me chamava de gorda e feia. A opinião dela.
- E isso te afetou, e afeta até hoje. Não negue. Você é neurótica em relação à aparência. Mas tudo que você disse, ainda é bem superficial. Quero que você faça uma biografia. O que fez e o que deixou de fazer. Preciso disso, já que, falando você pode negar e mentir.
- O senhor tá me acusando de mentirosa? – Falei num tom afetado.
- Não, Julie, só estou dizendo que quem tem problemas com depressão e dependência química, geralmente não fala abertamente.
- Hum...
- Vamos ver... há quanto tempo você está sem beber? Sem se drogar?
- Faz quase um mês... – eu disse, encarando o chão.
- Mentira.
- Nã..
- Julie, sua mãe me ligou ontem. Você chegou à casa carregada por dois amigos. E estava inconsciente.
- Mas...
- Julie, quando eu falo que você tem que escrever TUDO, você TEM que escrever tudo. Ou é isso, ou é a clínica. Isso é para o seu bem.

Esse foi o super e animador diálogo com o meu psiquiatra. Psiquiatra. Juro que, lendo assim, parece que eu sou uma louca de pedra. Mas juro também que não sou. Minha mãe que é louca e pensa que eu tenho problemas mentais e por isso me faz visitar esse cara. Eu não gosto dele.
Ok, meu dia não começou lá essas coisas. Acordar de porre é um saco, uma dor de cabeça e com o estômago zuado. E de fato, tive uma festa, e acabei dormindo no chão da sala de estar da minha amiga. Mas eu simplesmente não me lembro como apaguei lá, mas só sei que acordei, com ela me chamando, falando que ia me trazer para casa. Lembro vagamente de ter passado mal, e de vir direto para cama. Acabei acordando 20 pro meio dia, perdi aula na faculdade, e então, resolvi escrever nisso aqui. Até que está sendo uma atividade fácil, porém é entediante. Não há ninguém em casa, minha cabeça parece que vai explodir. Eu tinha prometido a mim mesma que não iria mais depender de substâncias para me divertir. Eu realmente tentei. Tentei me manter afastada, tentei não me importar, e no começo, eu me dei bem. Até que vi ele. O autor da minha desgraça, ou da maior parte dela.
Jake. Alto, moreno, meio nerd. Não fazia o tipo de muitas garotas, mas a mim, ele fascinava. Fazia minhas pernas tremerem, e me coração disparar. E eu tinha uma necessidade de ficar perto dele, de ter ele, de sentir ele. E, eu tentei, desde sempre, me aproximar dele. Conquistar ele. Mas... hum, um dia conto essa parte. E vê-lo conversar com meninas lindas, me deprimia. Ver ele se interessar por elas, me deprimia. Ver que eu nunca serei mais de que uma amiga me deprimia ainda mais. O fato foi que quando me vi, já estava bebendo demais, mais do que eu realmente esperava. Não lembro o que tomei, mas lembro de ter misturado tudo e mais um pouco. E quando tudo e mais um pouco começou a fazer efeito me senti segura o bastante para tentar falar com ele, tentar me insinuar para ele.
- Oi Jake – eu disse numa tentativa de fazer uma voz bem sexy. Deve ter soado um tom ridículo, mas no momento eu me achei realmente sexy.
- Hey Julie, você por aqui – ele disse, simpático como sempre. Só de ouvir aquela voz, me arrepiava toda.
- Pois é – sorri tímida, colocando meu cabelo atrás da orelha. Jogo de charme. Sentamos num sofá ali por perto, e eu bebendo demais. Ele começou a falar de qualquer coisa, acho que sobre vídeo-game, e eu me aproximando cada vez mais perto dele. Não me importava se estavam olhando, só queria ele. Passei as minhas unhas de leve na sua nuca, o senti arrepiar, e por impulso, acabei sentando em seu colo, deixando bem a mostra minhas pernas, já que vestia uma saia bem curta e um decote avantajado.
- Julie, por favor...
E a partir aí, já deu pra imaginar, né? Ele me afastou de si, segurando meus pulsos fortemente, falando um “não” em tom seco. Ele sempre recusava. E aí, eu o vi emergir dentro daquela multidão de pessoas, e eu fiquei lá, com mais copos de bebidas, chorando. E imaginando qual era o problema comigo. Vai ver eu não seria boa o suficiente pra ele, mesmo.
A partir disso, só lembro alguns flashs. Um cara bonito, a gente se amassando naquele sofá, um belo chupão dos dois lados no meu pescoço, um roxo na minha cintura. E bebidas. Muitas. Não lembro o nome dele, nem se me deixou o seu telefone. Mas, quando eu estava com o cara lá, senti o olhar de desaprovação de Jake sobre mim. Olhava-me com certo nojo. Como se eu fosse uma puta. E era essa mesmo a imagem que eu estava passando. Sentei no sofá, passando a mão pelos meus cabelos e voltando a chorar. Ele sentia nojo de mim. Achava-me uma vagabunda. Meu estômago revirava.  Tudo estava virando. Deitei no sofá e apaguei. Meu último pensamento, antes disso, era “e se eu tivesse feito nada? Se eu não tivesse vindo? E se não tivesse o conhecido? E s’eu não tivesse nascido? Teria um peso a menos no mundo, com certeza”.

- continua -

Um comentário:

  1. A tia Pri ainda vai se encher de me ver nos comentários dela LOL
    A HISTÓRIA ESTÁ CADA VEZ MELHOR (L)

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