Estava chovendo. Meu cabelo bagunçado, meu pijama amarrotado. Aquela angústia ainda estava presente. Palavras ditas, palavras jogadas, palavras que não eram daquele contexto vagavam em minha mente. A constante pergunta era o “por quê?”. Por que estamos assim?
Lembranças de um sábado qualquer, daqueles que íamos a qualquer lugar, e passávamos curtindo um ao outro, vêm a tona. Nada importava. Nem dinheiro, nem carro, nem as pessoas. Muito menos os problemas, e olha, eles nunca foram poucos ou pequenos. Nos contentávamos com pouco, muito pouco. Um pacote de bolacha Passatempo e uma garrafinha de Coca-Cola. Aqueles dias tinham um sabor doce.
Hoje, olhando essa chuva, naquele estado acabado, percebi que minha aparência revelava como eu me sentia por dentro: bagunça e falta de amor próprio. Percebi que muitos sonhos foram destroçados pela realidade, e que uma vida sem sonhos, não é uma vida. Perdi aquele brilho, perdi aquela vontade, aquela velha empolgação. Perdi a a vontade de fazer brincadeiras idiotas ou, então, agir como uma idiota e pensar “quem se importa? Eu sou feliz.”. Hoje, opiniões mudaram, competições cresceram, mas… será que vale a pena passar o dia dentro de uma competição besta? Passar o dia em pé de guerra por coisas tão simples? Vale a pena julgar as pessoas sem, ao menos, conhecê-las? Julgar que elas não são boas pessoas e que sempre, sempre, vão nos fazer algum mal?
O gosto amargo do café descia em minha garganta, e me dava forças para continuar, para encarar um dia que eu lutaria para ser diferente. Chega uma hora que precisamos tomar uma decisão. Chega uma hora que nossas vidas precisam ser domadas, e o destino mudado por nós mesmos. Eu faria de tudo para conseguir isso. Daria tudo para voltar naqueles sábados gelados de outono, quase inverno, andando por aí com fones e uma música boa; aquela brisa e sensação boa de liberdade.
Texto por Priscila Guerra.