24 de setembro de 2011

Coisas alheias #14

Estava apoiada na pia do banheiro. A água fria escorria pelo meu rosto, e eu olhava meu reflexo no espelho. Um passado que parecia tão distante, eu ainda enxergava aquela menina de bochechas cor-de-rosa correndo de um lado pro outro. O passado havia deixado marcas, mas havia ido embora, também, como a maioria das coisas em sua vida. Olhava aquele reflexo, e só enxergava olheiras e cansaço. Aquela vontade de desistir, de fugir. De correr... mas pra onde? A janela mostrava o crepúsculo. Mais uma olhada no reflexo, via a água escorrendo, os cabelos que foram molhados, colando em minha testa. Eu sentia falta daquela garota sonhadora, onde sua vida fora idealiza, onde ela fora criada longe de problemas reais. Metade de meu reflexo era bochechas rosadas e a outra metade, um pouco mais velha, meio branca e com olheiras. Metade de minha vida estava escrita em páginas de livros de romance, e aqueles que idealizam e mostravam que, se você tem um sonho basta lutar e seguir em frente.
Eu lutava, lutava, lutava, mas parecia que a cada passo que eu dava nessa corda bamba, ele ficava ainda mais distante, e mais difícil de atravessar e era como precisar agarrar a mão de alguém para não cair num precipício. Eu precisava me agarrar aos sonhos para não cair no precipício da realidade, que tentava a todo custo me puxar para o fundo. Eu não podia. Não, não, não. Precisava aguentar, cantar e sonhar, pois eu sabia e todo mundo sabia que para ganhar, tinha que perder algo. E, eu suportaria alguma outra perda? Suportaria abrir mão de algum sonho para poder aguentar outro tipo de dor? Um grito sufocado em minha garganta. Desespero, falta de esperança, vivendo em uma rotina, naquilo que eu precisava acreditar pra poder continuar... sonhos, sonhos, sonhos...

Um comentário:

  1. Nossa, que lindo... Esse texto é seu?
    bjs *-*
    http://territoriodascompradorasdelivro.blogspot.com/

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