Quando a gente é criança, percebe que o mundo é uma grande diversão. Que, mesmo com problemas, podemos achar, até um pouco de graça neles.
Quando eu era criança, aos domingos, eu costumava caminhar com meu pai pela vizinhança. Era legal. Eu era pequena, sem noção nenhuma de trânsito, não que fosse movimentado aonde eu morava, mas lembro de meu pai me ensinando a não atravessar a rua sem olhar para os dois lados. Lembro dos primeiros conselhos. Lembro de quando ele falava que achava que ia chover naquela tarde. Lembro de como era divertido esperar os domingos para poder fazer isso e ir ao mercado, depois passear numa banca de jornal. Lembro que era divertido andar de bicicleta, mesmo com o sol "rachando a cuca". E era divertido se sujar de terra, caçar minhocas ou tatuzinhos. Que era divertido ir ao jardim de minha vó e despedaçar os botões das rosas que meu vô cultivava, e depois fingir que nada tinha acontecido. Era divertido subir no fusca que meu vô tinha, e depois escorregar pelo porta-malas. Era uma verdadeira brincadeira. Era como se o tempo passasse, mas não passasse. Como se eu tivesse a vida toda pela frente, para poder continuar a me preocupar com que lápis de cor tom verde eu iria pintar as folhas de uma flor, para não ficar igual a da grama. Nunca fui muito de bonecas... eu tive a fase de bebês, Barbies e Susis, mas como eu gostava de brincar fuçando nas coisas de meu avô. "Você parece um muleque, menina! Vá brincar de casinha com sua irmã/prima!", quantas vezes eu não ouvi essa frase? Quantas vezes eu não quis fazer algo que "não é pra sua idade. Quando você crescer, você poderá fazer". Quantas vezes, chorei por querer ser mais velha.
Agora, anos depois, prestes a completar os meus 19 anos, lembro do passado, desejosa que tudo voltasse a reluzir como uma bolha de sabão recém feita. Desejosa que os problemas não fossem problemas de verdade, desejosa que, o mundo fosse melhor, que as pessoas fossem melhores, que eu não tivesse sofrido tanto por amores não-correspondidos. Desejosa que as amizades fossem como antes, que as minhas relações fossem como antes, porque, quando crescemos, parece que deixamos uma parte para trás, e que nos dias de hoje, há uma lacuna que não pode ser preenchida. Mas ao mesmo tempo, percebo que há uma vasta quantidade de coisas a serem descobertas ainda, e que a vida continua, não para, te consome e não volta atrás.