Stuck on Them

Tarde chuvosa. Física. Espelhos esféricos, leis de Newton, ondulatória. 11 livros abertos em sua mesa. 11.

Queria jogar tudo para o alto e sair correndo na chuva, sentir a sensação da água batendo em seu rosto, queria se sentir leve. Mas não podia, teria prova daqui dois dias e um monte de coisas pra estudar! Os professores nunca facilitam.

Não estava conseguindo se concentrar. Culpa dele. Somente dele.

Por mais que tentasse, sua mente teimava em repetir a cena. Um flashback a cada 4 minutos, e em instante diferentes. Engraçado não se lembrava de como tinha acontecido, acabou se lembrando aos poucos graças aos flashbacks, mas que maldita hora pra se lembrar não? Tinha que ser justo quando tentava aprender a aplicar a maldita formula: 1/f =1/p +1/p'?

Estava tudo tão confuso... tão diferente. Ela se sentia tão... madura? Adulta?

Tentou começar a pensar novamente, mas desse vez foi interrompida pela campainha. Xingou mentalmente todos os nomes que conhecia achando que fosse o carteiro. Estava vestindo uma roupa ridícula, e o cabelo estava pior ainda. Foda-se também, ninguém mandou atrapalhar os estudos de física. Não estava achando as chaves, aonde será que sua mãe tinha colocado mesmo? Isso que dá fingir que escuta às vezes...

Depois de um tempo perdido com a chave, torcendo para que a pessoa tivesse ido embora, logo foi-se embora essas esperanças: a campainha tocou mais uma longa e demorada vez.

- Caramba, que porcaria mano ¬¬

Saiu de casa correndo, tropeçando nos chinelos. Alguma coisa lhe dizia para sair correndo, fugir, desaparecer. Tremia da cabeça aos pés.

- O que é? - disse aparecendo na garagem, sem olhar para o portão;

- Era com você mesmo que eu quero falar. - Uma voz masculina disse. Tremeu mais ainda. Como assim, ele estava aqui?

- O que é que você quer? - Disse num tom indiferente. Não iria demonstrar o tanto que se afetou com aparição dele.

- Quero.. quero esclarecer as coisas. Não sei se esclarecer seria a palavra certa. - Ela o viu encostado na parede, com as mãos no bolso. Cabelo despenteado como sempre, do jeito que ela amava .

- Fácil para você dizer isso. Muito fácil. Esclarecer? O que? Na verdade, O QUE MAIS? Que não sou tão boa o suficiente para você? Que simplesmente você adorou brincar com meus sentimentos e depois agir como se nada tivesse acontecido ou sido feito? - abriu o portão.

- Não brinquei com você... - ele disse entrando de cabeça baixa e com as mãos nos bolsos ainda.

- Não, a vovózinha que brincou. - Ironizou. Estava sendo mais seca do que previa.

- Você nunca irá entender. - Ele disse um tom desabafo.

- Você é que nunca irá entender. - Ela disse no mesmo tom.

O que? Ela era cabeça dura demais pra tentar se colocar no lugar dele. E dele cabeça dura demais pra entender o lado dela. Abaixou a cabeça, as lágrimas começaram a cair involuntariamente. O passado voltava a tona em sua mente.

Ele não pensou duas vezes ao ver a menina com a cabeça baixa: se aproximou e tocou-lhe o rosto, limpando as lágrimas.Era difícil a ver chorar, sabendo que ele também nutria algum tipo de sentimento.

- Você não sabe das coisas que me fez sentir naquele dia.

- E você muito menos. - Ela disse fechando os olhos e esboçando um sorriso tímido.

Como ele amava aquele sorriso. Por um ato impulsivo se aproximou sua boca e tocou-lhe os lábios. Selando-os com força e vontade: Paixão.

Ambos sentia aquele energia de arrepiar os cabelos da nuca, aqueles choques, aquela corrente de amor que uma passava para o outro numa sintonia perfeita. Eles era como se fossem um o encaixe do outro. A cada toque era como se a energia se renovasse. Ela sentia que ele era só seu, e ele sentia que ela era só dele.

"Até parece que você já tinha meu manual de instruções, porque você decifra os meus sonhos."